"...Desandei até meu quarto e retirei o uniforme. Senti como se estivesse nascendo naquela hora, em um mundo de tarde fria onde só chorar era possível. Olhei no espelho do guarda-roupa, me procurando. Minha boca estava branca de dor e medo. O silêncio interminável trazia um andar sereno de todos e gestos só de desculpas.
...
Na manha do outro dia, assentado no banco de reguinha e duro, eu via o trem comendo o mundo. Parecia que toda a paisagem – árvores, casas, cercas, gados, rios – era devorada. Nada ficava para trás, a não ser a minha lembrança.
...
Assim, eu passava os dias recuperando o atrasado como se fosse possível, com ele, trazer todo o perdido de volta.
...
A casa ficou maior e cheia de silêncio. Tudo parecia se esforçar para não acordar quem deveria dormir por toda a vida. O vazio ocupou, tanto, o quarto que passei a dormir na beiradinha da cama, como se empurrada pelo novo morador. E o vazio não me deixava tocar em nada. Tudo – santo na parede, latas de talco,vidros de perfume, caixinhas de desmazelos,imagem na beira da cabeceira – tudo ficava no mesmo lugar por exigência do vazio. No nada cabe tudo. Até a poeira marcava a retirada de qualquer pertence.
..."
(trechos retirados e adaptados do livro "Ler, escrever e fazer conta de cabeça - Bartolomeu Campos de Queirós)
"Gosto dos venenos mais lentos, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes… tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
- E daí? Eu adoro voar!
Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre."
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